Pesquisa, texto, e edição de livro de história da família.
Capítulo “Os Dotto e a travessia no Vapor Ester”(p. 23/24)
(…) O vapor Ester, onde embarcaram os Dotto, era um navio grande e moderno para a época, mas os emigrantes viajavam na terceira classe, sem conforto, e a higiene era precária. Quanto à bagagem,
“os emigrantes portavam uma verdadeira parafernália de caixas, caixotes, malas, sacolas (…). No Brasil a terra custava pouco e os produtos manufaturados, muito. Os emigrantes levavam para a América vestimentas, cobertas, lençóis, colchões, instrumentos de trabalho, ferro, correntes, o trem de cozinha, o moinho de café, chapéus, sombrinhas pentes de tear, o caldeirão de lavar a roupa, a máquina de fazer macarrão, o relógio, espingardas, lampiões, a navalha para barbear (…)”. (MAESTRI, 2000, p. 53).
O vapor Ester partiu em 12 de dezembro de 1877 e chegou no tempo previsto no Rio de Janeiro, dia 12 de janeiro de 1878 (SPONCHIADO, apud Suliani, 2001, p. 711). Entre os tripulantes havia 84 famílias de emigrantes que iriam para o sul do país, entre elas a família Mizzan, formada por Giovanni Battista Mizzan, sua mulher Teresa e cinco filhos. Através de uma carta enviada em março de 1878 aos seus parentes, Mizzan informa sobre a travessia no vapor Ester.
“Assim que partimos de Gibraltar, o nosso vapor seguia tranquilamente, com dias esplêndidos (…) navegamos sempre muito bem. O dia do Santo Natal foi um dia muito feliz, mas no dia de Santo Estevão levantou-se uma violenta tempestade, que nos pôs em perigo. Vendo o nosso pequeno navio batendo contra as ondas, estávamos em pânico. A tempestade durou 30 horas e depois veio a bonança, e tudo estava tranquilo. No último dia do ano passamos a linha do Equador e tivemos três dias de muito calor, mas um calor suportável. Os dias restantes foram sossegados. Depois de uma longa navegação de trinta dias, finalmente em 11 de janeiro, de manhã cedo, podíamos ver as montanhas do Brasil. Começamos, então todos a gritar Viva! Viva a América! Por fim, aos 12 de janeiro, chegamos ao Rio de Janeiro. Na viagem nasceram três e morreram sete” (RIGHI, 2001, p. 466).
Um dia antes de aportarem, o inspetor geral a bordo do vapor Ester escreveu a respeito de um dos filhos de Giuseppe Dotto, chamado Jacob, registrando que “foi desembarcado e conduzido à Santa Casa de Misericórdia por estar gravemente doente”. O final da viagem, para a família Dotto, foi difícil. Segundo Busanello, Pedro Luiz Dotto acompanhou o irmão Jacob no hospital, dirigindo-se para Silveira Martins apenas quando o irmão já estava recuperado. Jacob, que na Itália “aprendeu o ofício de remendão, com especialização, e frequentou mais escola que os outros” optou por não vir para o Rio Grande do Sul com a família (BUSANELLO, p. 36).
Os demais membros da família Dotto seguiram viagem. Do Rio de Janeiro seguiram para o sul. Passaram por Porto Alegre e, na vila de Rio Pardo, pararam por alguns dias (RIGHI, 2001, p. 467). Por sua privilegiada posição geográfica, na confluência entre os rios Jacuí e Pardo, esta vila era um importante espaço militar e comercial durante o século 19.
Transcorridos seis dias de espera em Rio Pardo, finalmente as carretas estavam à disposição para conduzir os imigrantes para a Serra de São Martinho, na região central do Rio Grande do Sul (…)