Família Müller Kautzmann

Pesquisa e texto para Romance Histórico Biográfico (em processo de edição)

Segue, como exemplo, uma parte do capítulo Capítulo VII do livro (p. 58/59):

(…) Mamãe agendou um horário com o Secretário da Educação. No dia marcado saímos de Taquara de carro-motor, assim se chamava o trem que saiu em sua cadência costumeira cruzando por trilhos e mais trilhos até afastar-se do povoamento.

– Olha, Eunice, como a cidade é bonita vista de longe.

– Linda, eu amo Taquara.

Chegamos à estação férrea de Porto Alegre, na rua Conceição. Dali tomamos o rumo da rua Voluntários da Pátria. Era uma boa caminhada até chegarmos na Praça da Matriz. 

Mal começamos a caminhar eu já queria parar para ver tudo o que havia. Mamãe me arrastava, lembrando que tínhamos compromisso e que não estávamos ali a passeio. Contudo, em frente ao edifício Ely até ela sucumbiu à vontade de admirar tamanha beleza arquitetônica. 

– Mãe, é um castelo!

– Parece mesmo, e de certa forma não deixa de ser, com tantos ornamentos e tão grande. Quem mandou construir foi um comerciante muito rico, cujo sobrenome era Ely. Ele contratou um dos melhores arquitetos da época, o Theo Wiederspahn, o mesmo que construiu o Hotel Magestic e o prédio dos correios e telégrafos.

– Como a senhora sabe? A senhora é tão inteligente.

– Minha querida! Ocorre que estive visitando o teu irmão aqui na capital e ele me contou, mas também li algo em algum jornal, provavelmente no Correio do Povo.

Era de se esperar que novamente ficaríamos a observar algo em meio a tanta novidade. E, dessa vez, não fui eu quem parou de caminhar. Mamãe começou a apertar a minha mão de um jeito tão forte que até me assustei.

– Esse é o famoso edifício Guaspari, que obra prima, moderno! Não é lindo Eunice?

Eu não conseguia focar os olhos em nada específico, fiquei impactada com a verticalidade da avenida Borges de Medeiros. Nunca havia estado em uma metrópole. Me deixei levar por aquela sensação diferente de estar em um espaço onde tudo era mais acelerado, entre prédios altos e com tanta gente e tantos carros.

– Eunice, eu estou falando contigo

– Desculpa, o que foi mamãe?

– Eu estava te dizendo que li no jornal quando inauguraram este prédio da Loja Guaspari. Olha isso, o térreo é todinho envidraçado, o arquiteto desenhou o prédio de forma que criasse a sensação, para quem o vê, de que é um navio em alto mar. Essa ponta arredondada, não parece a proa de um navio?

– É mesmo, como pode isso? Parece um navio!

Mamãe, sem querer, me fez mergulhar mais fundo ainda em meus devaneios. Agora, além de tudo, e tudo muito rápido, havia um navio em plena avenida! Mas minha aventura em alto mar durou pouco, saímos do estado de contemplação e seguimos adiante, caminhando rapidamente até a Rua da Praia. Ali mamãe começou a andar em passos mais vagarosos, as vitrines nos seduziam. Pedi para entrar “rapidinho” na Casa Sloper, olhar umas bijuterias, mas mamãe lembrou que se não seguíssemos adiante nos atrasaríamos. Na rua da Ladeira subimos, subimos e subimos até chegarmos na praça Marechal Deodoro. Ali eu parei de caminhar porque estranhei a mudança de “paisagem”. Mamãe não percebeu e seguiu pela praça.

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